Rã endêmica do Ceará corre risco de extinção antes de ter potencial farmacêutico estudado

Fortaleza, CE – A rãzinha-de-Maranguape (Adelophryne maranguapensis), espécie encontrada exclusivamente no Ceará, está enfrentando um grave risco de extinção. O pequeno anfíbio, endêmico do Pico da Rajada, na Serra de Maranguape, corre o perigo de desaparecer antes mesmo que os cientistas possam descobrir os possíveis benefícios de sua pele — que pode ter aplicações valiosas na indústria farmacêutica e biomédica.
Pesquisadores cearenses vêm soando o alerta sobre a urgência de medidas de proteção. Entre as principais ameaças à sobrevivência da espécie estão a destruição de seu habitat natural e um fungo patogênico, que já afetou populações de anfíbios em diversas partes do mundo.
Estudo pioneiro identifica micro-organismo inédito
Durante dois anos de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Sistemática, Uso e Conservação da Biodiversidade (PPGSis) da Universidade Federal do Ceará (UFC), o biólogo Victor Lucas Morais Rodrigues dedicou-se ao estudo da rãzinha-de-Maranguape. Como resultado de sua pesquisa, ele identificou um micro-organismo inédito no Estado, presente na pele do anfíbio — uma descoberta que reforça a importância científica da preservação da espécie.
“É possível que compostos produzidos por esse micro-organismo, ou mesmo pela própria pele da rã, tenham potencial farmacológico, mas isso só poderá ser investigado se conseguirmos garantir sua conservação”, destacou Victor.
Além disso, o estudo também busca compreender o impacto do fungo Batrachochytrium dendrobatidis, conhecido por causar a doença quitridiomicose, que já levou ao declínio de populações de anfíbios em todo o planeta.
Apoio internacional à conservação
O trabalho de Victor Lucas e sua equipe recebeu reconhecimento internacional. O projeto foi aprovado para financiamento pela Rufford Foundation, uma instituição britânica que apoia iniciativas de conservação da biodiversidade em países em desenvolvimento. O recurso permitirá a continuidade das pesquisas e ações de proteção da espécie, como o monitoramento da população e estratégias de controle do fungo.
Espécie em situação crítica
A Adelophryne maranguapensis foi descrita cientificamente apenas em 2005 e, desde então, nunca foi encontrada fora da área do Pico da Rajada, o que a torna extremamente vulnerável. Qualquer impacto ambiental significativo na região pode representar uma ameaça direta à sobrevivência da espécie.
“Precisamos agir agora para que essa espécie não desapareça sem sequer sabermos todo o seu potencial. Preservar é também investir em ciência, saúde e futuro”, defende o pesquisador.
O caso da rãzinha-de-Maranguape evidencia a importância dos anfíbios na biodiversidade brasileira e a necessidade de políticas públicas e apoio institucional para a pesquisa científica voltada à conservação das espécies endêmicas.