Erosão costeira causa avanço do mar em todas as 20 cidades litorâneas do Ceará, aponta estudo

Um estudo recente revelou que mais de 38% da costa cearense sofre com erosão crítica, afetando diretamente os moradores, o meio ambiente e a economia local. Ao todo, 215 dos 553 pontos analisados apresentaram alto nível de degradação costeira, espalhados pelos 20 municípios litorâneos do Ceará.
Entre os casos mais graves está a Praia do Icaraí, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. O local perdeu aproximadamente 110 metros de faixa de areia entre 1984 e 2020, segundo levantamento da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Em consequência, muros desabaram, ruas cederam e imóveis apresentam rachaduras. A população vive em alerta constante.
“No dia 22 de setembro do ano passado, as ondas mais altas derrubaram uma parte enorme do nosso muro. Ficamos desesperados”, relata Orlenilda Cunha, moradora há sete anos do Icaraí. “São nossas casas, nossas vidas. A gente vê que não há uma preocupação muito grande das autoridades”, desabafa.
Ações de contenção
Para conter os danos, a Prefeitura de Caucaia implantou uma série de obras estruturais na orla do Icaraí, como:
- Bagwall (estrutura em forma de escadaria com pedras na faixa de areia);
- Enrocamento (barreiras de pedras para reduzir a força das ondas);
- Três espigões em forma de serpente, inclinados para o oeste, para reter a areia e diminuir a erosão.
Apesar dos esforços, moradores afirmam que os impactos continuam — e que as construções teriam desviado a força das ondas para outros trechos da praia.
Causas naturais e agravantes
A erosão costeira é um processo natural, agravado por fatores climáticos, intervenções humanas e falhas no planejamento urbano. De acordo com o professor Jeovah Meireles, do Departamento de Geografia da UFC, a movimentação das ondas — influenciada por ventos alísios e marés — transporta sedimentos ao longo da costa. Sem reposição constante de areia, a linha de costa recua.
Diagnóstico estadual
Para dimensionar o problema, o governo do Ceará lançou em março o Plano de Ações de Contingência para Processos de Erosão Costeira (PCEC), desenvolvido pela SEMA em parceria com a FUNCAP. A análise foi realizada com base em imagens de satélite processadas pela plataforma CASSIE, que utilizou 553 “transectos” — linhas imaginárias traçadas a cada 1 km ao longo do litoral.
Esses dados permitiram identificar os trechos mais críticos, orientar intervenções emergenciais e embasar políticas públicas para o combate à erosão.
Um desafio de 570 km
O litoral cearense possui mais de 570 km de extensão, abrangendo cidades como Fortaleza, Aracati, Camocim, Beberibe, Jericoacoara, entre outras. Em todas elas, a erosão representa uma ameaça concreta — tanto ao meio ambiente quanto às comunidades que vivem do turismo, da pesca e de outras atividades litorâneas.
O estudo reforça a necessidade de ações integradas, sustentáveis e contínuas para proteger as praias cearenses e garantir o futuro das populações costeiras.