Conheça Robert Sarah, cardeal negro e conservador que participa do conclave no Vaticano

Robert Sarah, cardeal conservador e crítico de Francisco, participa do conclave no Vaticano
Figura central entre os católicos tradicionalistas, o cardeal guineense Robert Sarah, de 79 anos, é um dos 131 cardeais que participam do conclave iniciado nesta quarta-feira (7) no Vaticano para a escolha do novo papa. Com posições fortemente conservadoras em temas como imigração, homossexualidade e liturgia, Sarah é considerado um dos principais críticos do pontificado de Francisco.
Sua presença no conclave quase foi inviabilizada pela idade — ele completa 80 anos em junho, idade-limite para participar da eleição papal. Ainda assim, permanece como uma voz ativa entre os cardeais, especialmente entre os mais alinhados à ala conservadora da Igreja.
Conservadorismo em destaque
Robert Sarah é conhecido por declarações contundentes. Em 2015, comparou ideologias ocidentais sobre homossexualidade e aborto a regimes como o nazismo, o fascismo e o comunismo, além do fanatismo islâmico. Já em 2024, se posicionou contra um documento da Santa Sé que abre caminhos para a bênção de casais do mesmo sexo, classificando-o como “heresia” em nome de vários bispos africanos.
Ele também foi um dos cinco cardeais que, em outubro de 2023, assinaram um apelo para que o papa Francisco reafirmasse a doutrina católica tradicional sobre casais homoafetivos e a ordenação de mulheres.
Sobre imigração, Sarah tem uma postura igualmente rígida. Em 2021, criticou o fluxo de jovens africanos para a Europa, afirmando que o continente africano estava perdendo suas “forças vitais” e alertando para uma “autodestruição” europeia diante da chegada de populações estrangeiras.
Trajetória e influência
Nascido em 1945 em Ourous, então colônia francesa, Sarah é filho único de uma família de agricultores. Estudou no exterior e retornou à Guiné após a independência do país, em 1958. Foi ordenado sacerdote em 1969 e, em 1979, tornou-se o bispo mais jovem do mundo, aos 34 anos — o que lhe rendeu o apelido de “bispo bebê”.
Sua carreira eclesiástica avançou durante os pontificados de João Paulo II e Bento XVI, dois papas que admirava profundamente. João Paulo II o nomeou secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos em 2001, enquanto Bento XVI o fez cardeal em 2010.
Autor de diversos livros sobre fé, liturgia e os papas conservadores, Sarah defende uma liturgia tradicional e crítica o que considera uma “africanização” da missa. “Estamos distorcendo o mistério pascal que celebramos”, disse certa vez.
Apesar de ter sido nomeado por Francisco para chefiar a Congregação para o Culto Divino em 2014, seu mandato não foi renovado em 2021, num gesto interpretado como distanciamento entre os dois.
Chance no conclave
Especialistas consideram improvável que Sarah reúna os votos necessários para ser eleito papa — o escolhido precisa obter ao menos dois terços dos votos no conclave. Ainda assim, sua participação mantém viva a influência da ala conservadora da Igreja e pode pesar na escolha de um pontífice mais próximo dessa corrente.