Conclave já elegeu dom Aloísio Lorscheider, ex-arcebispo de Fortaleza, como papa e ele recusou posto

Franciscano brasileiro quase se tornou papa em 1978, mas recusou cargo por motivos de saúde
Revelação de frei Betto aponta que dom Aloísio Lorscheider atingiu número necessário de votos no conclave que elegeu João Paulo II
O conclave realizado em 1978 que escolheu o sucessor de João Paulo I quase teve um brasileiro como papa. Segundo revelou o escritor e educador frei Betto em artigo recente, o então arcebispo de Fortaleza, dom Aloísio Lorscheider, chegou a alcançar dois terços dos votos necessários para se tornar o novo pontífice da Igreja Católica. No entanto, o franciscano recusou o cargo por motivos de saúde, abrindo caminho para a eleição do cardeal polonês Karol Wojtyła, que adotaria o nome de João Paulo II.
De acordo com frei Betto, dom Aloísio declinou da missão por causa de seu delicado estado de saúde à época — o religioso havia passado por uma cirurgia cardíaca e tinha oito pontes de safena. O cenário da época também contribuiu para a decisão: João Paulo I havia falecido apenas 33 dias após sua eleição, e a nomeação de outro papa com problemas de saúde poderia representar nova instabilidade na liderança da Igreja.
Apesar da recusa, o gesto de dom Aloísio ficou marcado na história e sua atuação seguiu com relevância na Igreja brasileira. João Paulo II, que foi eleito em seu lugar, permaneceu no comando da Igreja até sua morte, em 2005. Dom Aloísio viria a falecer dois anos depois, em 2007.
Forte ligação com o Ceará
Natural do Rio Grande do Sul, dom Aloísio Lorscheider esteve à frente da Arquidiocese de Fortaleza entre 1973 e 1995. Durante mais de duas décadas na capital cearense, exerceu uma intensa atividade pastoral e procurou fortalecer a comunhão eclesial, além de impulsionar a atuação social da Igreja.
Em reconhecimento à sua trajetória e ao carinho conquistado entre os cearenses, foi agraciado em 2005 com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), por suas contribuições nos âmbitos religioso, político e social.
Sequestro em presídio cearense marcou sua história
Um dos episódios mais marcantes de sua vida ocorreu em 1994, quando foi sequestrado durante uma visita ao Instituto Penal Paulo Sarasate, em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza. O arcebispo liderava uma comitiva que apurava denúncias de maus-tratos e precariedade na unidade prisional quando foi feito refém junto com outras 12 pessoas, incluindo três padres, um vereador, um deputado e a jornalista Erilene Firmino, do Diário do Nordeste.
Dom Aloísio permaneceu cerca de 20 horas em poder dos detentos e fez questão de ser o último a ser libertado. Em gesto cristão, perdoou publicamente os 14 sequestradores. O caso teve ampla repercussão nacional e internacional, levando a mudanças significativas no sistema penitenciário do Ceará.
Em 2024, o podcast Pauta Segura, do Diário do Nordeste, relembrou o sequestro em episódio especial dedicado ao religioso.